07/06/2022

A ressurreição de Cristo é o início da nova criação

Homilia pregada por André Aloísio no Seminário Propedêutico, em Teresina-PI, em 21/04/2022, por ocasião do Lucernário Pascal, devoção idealizada por Dom Jacinto, arcebispo de Teresina, onde se celebra a ressurreição de Cristo, meditando em sete cenas com manifestações do Ressuscitado.

Meus irmãos e minhas irmãs, a ressurreição de Cristo é o início da nova criação. Percebemos isso em duas das sete cenas da ressurreição lidas: em Jo 20,19-23, quando os discípulos estavam reunidos num lugar totalmente fechado, Jesus aparece no meio deles; em Lc 24,13-35, após ter partido o pão diante dos dois discípulos a caminho de Emaús, Jesus desaparece diante deles.

Essas informações mostram que a ressurreição de Jesus é de uma natureza diferente de todas as outras ressurreições acontecidas na Bíblia: do filho de uma viúva através de Elias (1Rs 17,17-24), do filho da mulher Sunamita através de Eliseu (2Rs 4,32-37), do homem que foi encostado nos ossos de Eliseu (2Rs 13,20.21), da filha de Jairo por Jesus (Lc 8,41.42.49-55), do filho da viúva de Naim por Jesus (Lc 7,11-15), de Lázaro por Jesus (Jo 11,1-44), de Tabita através de Pedro (At 9,36-43) e de Êutico através de Paulo (At 20,9.10).

Todas essas pessoas voltaram à vida com um corpo dessa criação, com as mesmas características possuídas antes da morte, e morreram novamente. O corpo de Jesus ressurreto, porém, é de uma outra natureza. É o mesmo corpo que morreu na cruz, pois o túmulo está vazio e as marcas nas mãos e no lado permanecem. Mas é esse mesmo corpo transformado para se adaptar à nova criação: incorruptível, glorioso, vigoroso e espiritual (dirigido pelo Espírito Santo), como diz São Paulo em 1Cor 15,42-44. E “Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre ele” (Rm 6,9).

O Senhor Jesus está vivo até hoje. Lembro que quando eu era criança, em gincanas bíblicas, se perguntava qual personagem bíblico viveu mais tempo, e a resposta esperada era sempre Matusalém, que viveu 969 anos. Porém, a resposta correta deveria ser Jesus, com mais de 2000 anos de idade, assentado à direita de Deus.

Isso é significativo, porque no Antigo Testamento, a ressurreição dos mortos era esperada para o fim dos tempos (Dn 12,2.13), como um evento da nova criação (Is 65,17-25). Se Jesus já ressuscitou, como de fato ressuscitou, isso significa que os fins dos tempos chegaram (1Cor 10,11) e a nova criação já começou.

Havia uma música sempre tocada na TV próxima ao Ano Novo: “O futuro já começou”. Isso aconteceu em Cristo. Tudo o que esperamos para o futuro já é presente em Jesus. Em Cristo, o futuro se tornou presente. Ou, usando uma linguagem mais teológica, em Cristo, a eternidade invadiu a história. Isso provoca uma sobreposição de eras: a presente e a futura, que coexistem até o retorno de Cristo.

Mas o que isso tem a ver conosco? Absolutamente tudo. Cristo é a cabeça, nós somos o corpo. Se ele já vive as realidades da nova criação hoje, isso significa que nós também experimentamos isso hoje em alguma medida. “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” (2Cor 5,17). "Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão." (Jo 5,25).

Quero desenvolver isso brevemente em três pontos.

1) Nosso batismo é uma participação na ressurreição de Cristo.

"Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova." (Rm 6,3.4).

Cada batismo é um milagre de ressurreição espiritual. Portanto:

a. Valorize seu batismo. Muitos de vocês foram batizados na infância e não se lembram do próprio batismo. Mas podemos renovar as nossas promessas batismais na Vigília Pascal, quando a água é aspergida sobre nós. Lembre-se: seu batismo é um milagre.

b. Valorize os batismos que você fará. Vocês, seminaristas, depois da ordenação, serão tentados a se acostumar com o ritual e a ver o batismo como uma simples cerimônia. Cuidado! Lembre-se: todo batismo é um milagre.

2) Nossa vida deve ser vivida à luz da nossa ressurreição espiritual presente.

“Mas Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos! –, juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, com Cristo Jesus” (Ef 2,4-6); "Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória." (Cl 3,1-4).

Podemos falar dessa realidade de duas perspectivas: vertical, em termos de terra e céu (como Paulo faz nessas duas passagens), e horizontal, em termos de tempo e eternidade (como tenho falado nesta homilia).

Somos como pessoas do futuro. No filme De volta para o futuro, quando Marty McFly, de 1985, volta ao passado, para o ano de 1955, ele é uma pessoa diferente das outras: tem uma aparência diferente, uma linguagem diferente, um comportamento diferente. Assim devemos ser nós, como pessoas do futuro.

Portanto, seja santo! Viva como uma pessoa do futuro. Não faz sentido querer se parecer com as pessoas deste mundo. Você é de outro mundo, você é de outra era.

3) Nossa vida deve ser vivida à luz da nossa ressurreição física futura.

"Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram! Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda" (1Cor 15,20-23).

Um dia nós ressuscitaremos fisicamente e teremos um corpo glorioso semelhante ao de nosso Senhor Jesus Cristo. A prova de que isso realmente acontecerá é que, além do Senhor Jesus Cristo, outro ser humano já experimenta essa realidade: Nossa Senhora! A Igreja nos ensina que, no final de sua vida terrena, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi assunta ao céu em corpo e alma. Ela estava tão intimamente unida ao Seu Filho que não era possível fosse retida pela morte. Nosso Senhor tomou Sua Mãe e nossa Mãe para Si. O que Nossa Senhora já experimenta é o que todos nós experimentaremos um dia. Portanto:

a. Não tenha medo da morte. “A morte foi tragada pela vitória” (1Cor 15,55). Se um dia você tiver que entregar sua vida por Jesus, faça-o com coragem!

b. Trabalhe incansavelmente para o Senhor. "Por consequência, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à obra do Senhor. Sabeis que o vosso trabalho no Senhor não é em vão” (1Cor 15,58). Se não existisse ressurreição, a melhor opção de vida seria o hedonismo: comamos e bebamos, que amanhã morrermos (1Cor 15,32). Mas existe ressurreição! Vale a pena se gastar na obra de Deus. Gaste-se e deixe-se gastar.

Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, a ressurreição de Cristo é o início da nova criação. E nós, que estamos em Cristo, já experimentamos essa nova criação. Que privilégio! E que responsabilidade! Que Deus nos dê a graça de vivermos nossa vida à luz de tão gloriosas verdades! E que Nossa Senhora interceda por nós para que assim possamos fazer!

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado.

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